domingo, 14 de dezembro de 2008

 

Gazeta Mercantil, 23 de março de 2006

Nem sempre inovar pressupõe investimento pesado

Adolfo Menezes Melito *

Idéias, Criatividade, Imaginação e Inovação compõem o universo da Economia Criativa, termo cunhado pelo empresário de mídia e consultor inglês John Howkins no livro "Economia Criativa, Como Ganhar Dinheiro a partir de Idéias". O conceito evoluiu e representa hoje o grande potencial de desenvolvimento no mundo. Alinham-se nessa definição produtos, serviços e tecnologia, além de ampla gama de processos, modelos de negócios, sistemas educacionais.

Criatividade é definida como a geração de idéias, uma nova forma de encarar problemas existentes ou oportunidades no mercado; inovação é o processo através do qual idéias são traduzidas em produtos, serviços e modelos de negócios; já o "design" é a criatividade aplicada a um fim específico.

Diferentes autores concordam que só duas em cada dez inovações são bem sucedidas. Tal desempenho se deve à dificuldade de prever seu sucesso. Sob esse ângulo, o processo tende a ser bastante oneroso. Cada empresa lida com a questão segundo o grau de sucesso alcançado no passado e o desempenho no presente.

Nem sempre inovar supõe investimento pesado. No campo das idéias, a criatividade pode ser estimulada a gerar constantemente novos espaços de mercado, distanciando-se da competição predatória e da batida disputa por preço e qualidade. A parte mais difícil é a mais importante: entender e antecipar as necessidades de clientes ou consumidores, habilidade que é também um processo criativo.

A criatividade floresce em ambiente aberto e não regulado para o fluxo de idéias. Segundo Richard Florida, autor de "The Rise of the Creative Class", cidades ou estados caracterizados pela diversidade, onde prosperam atividades educacionais e culturais, sem restrições a qualquer minoria, atraem educadores, cientistas, artistas e outros profissionais relacionados à Economia Criativa.

Assim deve ser nas empresas, se o objetivo for o de permitir a livre manifestação e estimular a criatividade aplicada aos negócios. Ambientes hierárquicos, políticos, burocráticos, não transparentes do ponto de vista dos critérios de atração e promoção de talentos, sofrem pela falta de novas idéias.

A criatividade brasileira nas artes, esportes e outras manifestações sócio-culturais dá a especialistas de outros países a percepção de que o Brasil é propenso a ocupar lugar de destaque na Economia Criativa. Na realidade, o quadro é outro. Estudo recente dos Professores Richard Florida e Irene Tinagli, da Carnegie Mellon University, elenca 45 países segundo o "Índice da Criatividade Global". O Brasil ocupa a antepenúltima posição, atrás de Uruguai, Polônia, China, Argentina, Turquia, Chile, Índia e México e à frente apenas de Peru e Romênia.

O último estudo da FIESP sobre competitividade global põe o Brasil em 39º dentre 43 países. Os cinco mais bem colocados são EUA, Suécia, Suíça, Japão e Cingapura. E o "ranking" no Índice da Criatividade Global é liderado por Suécia, Japão, Finlândia, Estados Unidos, Suíça, Dinamarca, Islândia, Holanda, Noruega e Alemanha. Não é coincidência! Há relação direta entre o grau de educação e o índice de produtividade de uma economia.

No caso brasileiro, é preciso recuperar aceleradamente a distância que nos separa de outras economias emergentes. Celebramos, por exemplo, a criação do curso superior em "Design" pela USP, que existe na China há 23 anos e forma hoje 10 mil alunos. A Associação Brasileira de Software e Serviços projeta exportação de US$ 2 bilhões até 2008, enquanto na Índia a NASSCOM, criada em 1988, reúne 950 empresas de TI que exportam US$ 20 bilhões ao ano.

Não resta alternativa senão investir pesadamente em criatividade e inovação para sobrepor esse tipo de vantagem. As empresas brasileiras estão, aparentemente, cumprindo seu papel. Restam políticas públicas coerentes, investimentos em educação e infra-estrutura e corte de gastos públicos. Irlanda, Nova Zelândia, Canadá e Espanha obtiveram progressos expressivos ao reduzirem seus gastos públicos entre 34% e 66%, figurando hoje nas primeiras posições do ranking da Criatividade Global.

* Adolfo Menezes Melito, 52, economista e executivo de empresas

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